Antes que você comece a explorar esse site, é importante dizer que não sou uma especialista técnica em IA, mas sim uma curiosa e entusiasta que já escreveu diversos livros sobre. O que vocês lerão aqui é uma explicação do ponto de vista de uma pessoa que não é do universo da tecnologia e que sabe o básico de codificação. Se você espera encontrar aqui códigos e como criar programas de machine learning, ciência de dados e como criar programas de IA, sinto desapontar, mas pelo menos por hora, não encontrará. Por outro lado, prometo compartilhar todo o meu conhecimento com vocês e explicar, tintim por tintim tudo o que eu sei para que você, leitor, se torne uma pessoa informada sobre a tecnologia.
Hoje muito se fala sobre inteligência artificial (IA), mas existe pouco material disponível para que leigos possam entender o que, de fato, ela engloba. Depois de muito estudar, pesquisar e escrever sobre o tema, percebi que muita gente ainda não entende o que ela de fato significa, até porque existem muitos poucos recursos para as pessoas não-técnicas que expliquem tudo que ela involve. Por exemplo, você sabia que o GPS é uma forma de IA, assim como o seu corretor ortográfico e mais uma série de coisas que você usa no dia-a-dia?
A IA vai muito além de ferramentas como o ChatGPT e é essencial entender onde ela está presente e como ela influencia nossa vida. Sendo assim, decidi criar esse site para trazer aos interessados explicações fáceis de entender e mostrar que hoje, essa tecnologia atua em nosso cotidiano mais do que imaginamos. Nesse site, você poderá navegar os diversos aspectos da IA e entender como e onde ela é usada, como ela é criada, e os perigos e desafios de usar essa tecnologia.
Se você está buscando como codificar e criar um programa de IA, infelizmente esse (ainda) não é o lugar para você, pois não possuo conhecimento técnico específico para tal. Agora, se você quer entender à fundo sobre a IA, o que ela implica e outros aspectos gerais, seja uma pessoa bem vinda! Espero que goste!
Inteligência artificial, como o próprio nome sugere, é a possibilidade de fazer com que máquinas tenham uma forma de pensamento (ou inteligência) similar de um humano. O objetivo da inteligência artificial é tentar reproduzir da melhor forma possível como nós aprendemos e nos expressamos. Quando temos um computador ou programa que consegue reproduzir a forma que associamos as coisas ou como pensamos, diz-se que temos uma forma de inteligência, apesar de ainda existir muitos níveis para isso. Sim! É como você acaba de ler. A IA tem diversas formas, como você poderá ler mais sobre aqui.
Mas como começou esse desenvolvimento de IA? Quando começamos a pensar que as máquinas também poderiam ser inteligentes como os humanos? Bom, essa história, se formos olhar para trás vem desde a Grécia Antiga. Entretanto, não precisamos ir tão longe assim. Na verdade existem muitos e muitos passos que foram tomados até chegarmos onde estamos hoje. Mas como o objetivo é te dar uma visão geral do tema, e não uma aula de história, vou repassar apenas os pontos mais importantes para que você tenha uma idéia do processo.
A primeira pessoa a publicar um artigo sobre o tema, na primeira metade do século XX foi Alan Turin. O nome parecerá familiar, e é mesmo! Turing é o inglês do filme O jogo da imitação (2014), que conta a história do primeiro computador, durante a Segunda Guerra Mundial. Em meados de 1950, Turing, já famoso por ter criado o computador, publicou um artigo que se chamava Computing Machinery and Intelligence (em tradução livre Inteligência de Computadores e Maquinas), em que discutia o processo para transformar máquinas simples em máquinas inteligentes.1
Acontece, que apesar de toda visão de Turing, os computadores da época tinham um problema: eles não tinha memória, ou seja, não guardavam informação. Sem isso, era impossível criar um sistema de inteligência já que grande parte do motivo da inteligência dos humanos é baseada nas coisas que lembramos, que aprendemos. Além disso, ter um computador e fazer com que ele funcionasse custava extremamente caro. Afinal, eram muitas informações e cabos para manter aquelas máquinas que ocupavam até um cômodo inteiro! Apesar de Turing ter começado esse "movimento," o termo inteligência artificial ainda não existia.
Isso só aconteceu em 1956, durante uma conferência nos Estados Unidos, chamada de Dartmouth Summer Research Project on Artificial Intelligence (DSRPAI), patrocinada pela grande IBM, que o termo foi adotado. Lá, John McCarthy escolheu o termo que acabou sendo incorporado em todo o mundo. A partir dessa conferência não somente o termo IA mas como também o conceito começou a ganhar força. Esse processo de aceleração da tecnologia é conhecido como verão IA, que depois, como você verão, é contrabalanceado por períodos de inverno de IA.
De 1956, após a conferência, até meados da década de 1970, muitas evoluções aconteceram nessa área2. O poder dos computadores foi altamente explorado e laboratósio, muitos financiados pelo departamento de Defesa dos Estados Unidos foram desenvolvidos. Se você se recorda das aulas de história, isso acontece justamente em meio à Guerra Fria, e os norte-americanos acreditavam que o desenvolvimento da IA era essencial para ganhar vantagem em cima dos soviéticos na corrida armamentista.
Nessa época, os algoritmos começaram a ser usados e as máquinas, com incentivo do governo e bancada pela iniciativa privada, foram ficando cada vez mais potentes e complexas. Elas já eram capazes de fazer contas, resolver problemas de geometria, e até mesmo processar informações e fazer correções em textos. Os computadores já tinham certa capacidade de reter memória e o conceito de redes neurais começou a ser desenvolvido. Com o uso dessas redes, os computadores já eram capazes de identificar símbolos em mapas, fazer pesquisas, e processar linguagem. Claramente, como isso tudo era desenvolvido nos Estados Unidos, a linguagem principal usada era o inglês, e não demorou muito para o ELIZA, um chatbot que respondia à perguntas, ser desenvolvido,
Investimentos continuaram a ser feitos e o processo desenvolvido, mas não somente nos Estados Unidos, também no Japão e na Inglaterra. Universidades trabalhavam em conjunto com pesquisadores, empresas e governos para melhorar os processos. Muito dinheiro (na casa dos milhões) era investido no processo, mas os avanços não eram significativos o suficiente para o governo, que retirou o seu apoio no meio de 1970. Além da falta de avanços rápidos como queriam, a pressão da sociedade sobre máquinas que teriam a mesma capacidade dos humanos gerava muita crítica. Nessa época e na década seguinte, muitos filmes ficaram conhecidos por "dar vida" à computadores que iam dominar o mundo. É comum encontrar, dessa época, uma série de filmes que falam sobre essa dominação, algo que continuou sendo produzido e, certa forma assustando as pessoas, até o final da década de 90.
A partir de 1974 até o princípio da década de 80, a IA entrou no "inverno," pois nada acontecia, novos desenvolvimentos não foram feitos e os processos ficaram levemente estagnados. Além disso, havia problemas de limitação devido a potência dos computadores, dos recursos disponíveis e de conhecimento de como desenvolver algorítimos e outras ferramentas para que o processo de aprendizagem pudesse funcionar. A pressão das pessoas que tinham medo que as "supermáquinas" poderiam fazer influenciavam o poder público e a opinião popular.
Em 1980, houve mais um verão de IA, com avanços significativos, mas que durou apenas sete anos. O grande propulsor do movimento foi o Japão, que investiu mais de 800 milhões de dólares no desenvolvimento da tecnologia e para criar um computador de última geração com uma capacidade nunca antes vista de processamento. Movimentado pela bolha econômica que foi gerada após o final da Guerra Fria, parecia que novamente empresas e governos iam voltar a investir, mas logo o entusiasmo acabou, empresas faliram e um novo inverno de IA começou. O período durou até 1993, quando o setor finalmente experienciou uma explosão , motivadora de tudo o que temos hoje.
A partir de 1997, com a apresentação do programa Deep Blue3, que venceu o campeão de xadrez Garry Kasparov, o universo da IA voltou a se agitar. O robô Watson, da IBM (e que existe até hoje) venceu o programa de perguntas americano Jeopardy! e novos racionais para desenvolver a inteligência de máquinas foram elaborados. A IA começou a ser usada para resolver problemas mais complexos e novos modelos de algorítimos foram criados. A IA começou a ser usada em aplicações como GPS, corretor ortográfico, e até nos sites de busca, como o Google. Ainda tiveram os avanços dos sistemas de reconhecimento de linguagem, os assistentes virtuais e os chatbots que eram usados no atendimento ao público.
Com o aumento na quantidade de dados gerados, as máquinas e o processamento foi se tornando cada vez mais potente. A evolução do hardware (a parte física) dos computadores crescia exponencialmente, enquanto novos programas eram desenvolvidos. Até então, muita gente não entendia como a IA estava sendo usada ou aplicada. Mas isso mudou em Novembro de 2021, quando foi lançado o ChatGPT e deu início a todo o "barulho" que vemos hoje sobre o tema e que vamos explorar.
Como você pôde perceber, a IA está presente em nossas vidas mais do que imaginamos. Não, ainda não estamos na Matrix, o Exterminador do Futuro não está vindo e nem vamos ser dominados por máquinas, Estamos longe disso. Mas aposto que você se surpreenderá ao perceber como ela está em quase todos os lugares, desde os menores até os mais comuns. Vamos dar uma olhada nos aplicativos em que você encontra IA (e tem aqui também):
O algorítimo da gigante do streaming é um dos mais poderosos do mundo. Com ele, é possível que a pessoa que está assistindo tenha recomendações feitas especificamente de acordo com seu gosto e preferência. À medida em que o algorítimo do serviço aprende, ele vai melhorando, o que permite que a plataforma traga cada vez mais conteúdo que seja do agrado do espectador. É um processo de aprendizagem, em que o computador vai coletando os dados de cada vídeo que você assiste e buscando itens relacionados a eles.4
A popular rede social, assim como outras, possui mais aplicação de IA do que você pode imaginar. A IA está presente nos filtros que os usuários usam para colocar na fotos, para determinar o conteúdo que você vai receber e também para determinar o tipo de propaganda que você vai receber. Uma pessoa que consome muito conteúdo sobre música, por exemplo, vai receber cada vez mais conteúdo desse tipo. Se você abre uma propaganda de um produto doméstico, a probabilidade de você receber mais propagandas com esse tipo de produto é maior. O mesmo vale para os amigos: aqueles com os quais você interage vai aparecer mais vezes (nos stories e no feed), e os que você interage menos vão ficando para o final ou nem mesmo aparecem.5
O alto-falante e assistente virtual da Amazon possui o mesmo conceito que você encontrará na Siri, da Apple, ou ao dizer Hello, Google, no seu telefone Android. Ao configurar o programa, todos pedirão para você falar algumas palavras ou frases "chave" para que eles possam entender o seu padrão de fala. Esse processo serve para "ensinar" o algorítimo a reconhecer a sua voz e como você fala, o que permitirá que a IA possa reconhecer o que você diz e os comandos no futuro. Sendo que ela está sendo treinada com sua voz é mais provável que ela atenda quando você falar alguma coisa do que qualquer outra pessoa, assim como também a probabilidade dela entender corretamente o que você diz é maior do que quando outra pessoa falar.6
Similar ao Netflix, o gigante do streaming de música usa a IA para poder entender os gêneros, músicas e artistas que mais vão agradar ao usuário. Com ele, a pessoa que está usando poderá escolher entre músicas de gênero similar ou o mesmo cantor, que aparecem imediatamente após selecionar uma música para a lista. Com a diversidade de listas disponíveis, que permite que o algorítimo seja cada vez mais preciso, é possível entender o poder de escolha e associação que ele possui.7
Você já reparou que quando começa uma busca e digita as primeiras letras ou palavras no campo de busca aparecem quase que imediatamente opções para que você escolha? Isso não é magia, é a IA! Nesse caso, o computador junta as possibilidades de combinações entre palavras e letras usadas por você e por outros usuários para prever qual é a busca que você vai fazer. Com base no seu histórico de busca, ele vai fazer as aproximações daquilo que é mais provável que você busque e te dar sugestões sobre o assunto. Ainda, quando digitamos algo incorreto, ele vai sugerir a versão "correta" da palavra nos resultados de busca e te dar opções com base nisso.8
Se você já comprou um produto na Amazon, ou mesmo ficou navegando pelo aplicativo ou pela página, vai notar que ao colocar algum produto no carrinho, vão aparecer sugestões do produtos que possam interessar. Esse sistema é baseado na IA, em que o algorítimo busca tudo o que outros usuários compraram junto com o mesmo item que você selecionou e te indica possibilidades. Além o programa usa as suas listas, seu histórico de compras e outros dados de navegação para poder sugerir itens que você possa comprar e, claramente, comprar mais.9
Enquanto para plataformas como a Amazon está claro que a IA é usada para "tentar" o usuário a comprar mais, você deve estar se perguntando o que outras plataformas como o Google, o Spotify e a Alexa ganham com isso, já que eles não estão necessariamente vendendo nada. Pois bem, nesse caso, essas plataformas estão vendendo um serviço que é pago por anunciantes, o que permite que esse ecossistema seja sustentado. Além do mais, quanto mais satisfeito o usuário está com o resultado do que está sendo oferecido, mais ele será usado e mais provável é que ele se transforme em um serviço do qual o cliente não abre mão. Por exemplo, hoje, muitas pessoas dependem do Netflix para descobrir filmes e séries de seu interesse, confiando no algorítimo e não "perdendo tempo" para escolher.
Da mesma forma, quando o Google usa essa previsão do que você vai buscar, ele oferece uma comodidade para o usuário com o objetivo de que ele use mais e mais o buscador, atraindo anunciantes que pagam para ter seus resultados exibidos. No caso do Instagram, quanto mais as empresas que anunciam vendem, ou quando mais "cliques" um anúncio tem, maior a visibilidade, o que pode gerar o conhecimento do produto. O mesmo vale para os filtros e facilidades oferecidas pela plataforma, que atraem o usuário com sua variedade dinâmica e possibilidades de interação, fazendo com que a pessoa fique mais tempo preso ao celular e às redes, sendo assim exposto a mais anúncios, gerando mais exposição para os anunciantes.